Pelé: Se fosse brigar quando fui chamado de negro, processaria todo mundo

Resultado de imagem para pele o filmeAs polêmicas recentes envolvendo episódios de racismo no futebol são encaradas por Pelé como exageradas. Para ele, a indiferença seria a melhor resposta para "bandidos e doentes" que vão para os estádios para praticar a segregação.

Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, Edson Arantes do Nascimento lembra que, ao longo de sua carreira nos campos, foi vítima de vários episódios de racismo em diversas partes do mundo, mas sempre preferiu ignorar os agressores.

"Xingavam, mas nunca houve essa preocupação, essa atenção que foi dada para os que gostam de segregar. Se eu fosse brigar todas as vezes que me chamaram de negro nos Estados Unidos, na Europa, na América Latina e no Brasil, eu ainda estaria processando todo mundo", afirma o Rei do Futebol.

A entrevista foi dada, nesta terça-feira (10), em Curitiba. Pelé esteve na capital paranaense para participar do lançamento de 19 cursos de pós-graduação à distância na área esportiva, que serão ofertados a partir deste ano pelo Grupo Uninter em todo o país. Entre as novas formações estão Gestão Profissional do Futebol, Direito Desportivo e Políticas Públicas para o Esporte. "Uma das grandes experiências que eu tive foi quando saí do Brasil e passei seis anos nos Estados Unidos. Lá, o futebol e todas as modalidades são muito mais valorizados nas escolas e universidades que no Brasil. Aqui, a profissionalização do esporte está atrasada", disse Pelé.

Esse foi um dos primeiros compromissos públicos em que Pelé esteve presente após 16 dias internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, no final de 2014. O Rei do Futebol contou como foi o período de internação e também falou sobre a crise na administração dos clubes brasileiros, a torcida única em grandes clássicos e o desempenho da seleção brasileira.

Confira abaixo a íntegra da entrevista:

Saúde

O que mudou na sua agenda após o problema de saúde?

Na realidade, na agenda não mudou nada. Acabo de chegar da África, da final da Copa da África. Parei uns 30 dias quando tive a infecção hospitalar. Graças a Deus, me recuperei e estou aí. Continuo cumprindo agenda. Vamos ter agora esta semana do Carnaval, que vou descansar. Logo após, a gente já começa a atender uns compromissos que, por causa da internação, eu tive que cancelar. Às vezes, eu brinco: estou pronto para outra. Mas não quero outra não. [risos]

Teve algum momento mais complicado dentro do hospital?

Na realidade, eu não tive muito problema não. O que talvez tenha assustado um pouco o pessoal foi o anúncio que o Pelé tinha ido para a UTI. Realmente eu fui para a UTI, mas era para mais proteção. Começamos a receber muitas visitas no meu quarto de parentes dos internados. Eles batiam na minha porta e queriam tirar foto. Como ficou muito forte essa pressão, [os médicos] falaram: "A gente vai colocar você em uma UTI porque aí a gente te preserva". Eu falei: "Ótimo". Graças a Deus, já passou.

Pelé e Edson

Antes da Copa, em entrevista à Folha, você falou que o Edson cuidava do Pelé. Como estão hoje o Edson e o Pelé?

O Edson continua cuidando do Pelé, sem dúvida nenhuma. O Pelé é mais popular, mais famoso, não sofre tanto. Para segurar a barra do Pelé, quem vai para a igreja, quem vai comungar, confessar, é o Edson. É o Edson que segura essa barra. Se você vai para qualquer canto do Brasil e diz que esteve com o Edson, passa batido. Mas, se você fala que almoçou com o Pelé, aí já é diferente. Coitado do Edson. O Edson sofre. [risos]
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Como você vê o seu título de Rei?

Eu até já acostumei a ser chamado de Rei, apesar de pagar os meus impostos e não ter nenhuma regalia. O único país que não tem nenhuma regalia ao rei é no Brasil [risos]. Não tem direito nenhum, mas é uma grande responsabilidade. Como eu sempre falei, o Edson toma conta do Rei Pelé e procura não deixar o Pelé fazer muita bobagem por aí, não errar muito.

Racismo

Temos tido casos de racismo no futebol. Como você vê essa repercussão e isso continuar ocorrendo?

Na minha maneira de entender, eu acho que deram muita ênfase a essa coisa do ser humano. Tem dificuldade e racismo contra o japonês, contra o gordo, contra o negro. No tempo em que eu era jogador profissional, era a mesma coisa. Xingavam, mas nunca houve essa preocupação, essa atenção que foi dada para os que gostam de segregar. Eles não são torcedores normais, são doentes que vão para os estádios e ficam ofendendo. Se todos fizessem como o Daniel [Alves], quando jogaram uma banana quando ele foi bater o escanteio, descascassem a banana, comessem e não fizessem nada, nunca mais ninguém ia fazer nada. O grande problema é que dão atenção a esses malucos que vão para o jogo, que não são torcedores, são bandidos.

Você vê como um certo exagero toda essa repercussão?

Claro, sem dúvida nenhuma. Infelizmente, nós temos o racismo no Brasil com o japonês, o negro, o gordo. Se eu fosse brigar todas as vezes que me chamaram de negro nos Estados Unidos, na Europa, na América Latina e no Brasil, eu ainda estaria processando todo mundo.

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