Delegação já é recorde, e COB espera inscrever aproximadamente 400 atletas nas Olimpíadas. Veja quem está perto da classificação e os critérios de convocaçãoLevanta peso, estuda tática, treina à exaustão, compete mundo afora, faz camping de treinamentos longe de parentes e amigos. Centenas de atletas brasileiros não medem esforços para representar o Brasil nas Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016. Para eles, os Jogos já começaram há meses, em uma rotina puxada de preparação. Personagens que, por ora, não têm identidade, não têm nome. A exatos dois anos para a abertura no Maracanã, nenhum brasileiro tem presença confirmada nas Olimpíadas, mas a delegação verde-amarela já vai ganhando forma. Por ser país-sede, o Brasil já garantiu 313 vagas (veja a lista abaixo). Um recorde que deve crescer ainda mais até o início dos Jogos.
O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) espera que a delegação tenha aproximadamente 400 atletas, bem mais do que os 258 de Londres, em 2012, e os 277 de Pequim, em 2008. Esse crescimento será puxado pelo atletismo e pela natação (sem considerar a maratona aquática), esportes em que os atletas ainda precisam buscar índices de classificação - juntas, as modalidades levaram 55 atletas aos Jogos de Londres.
No decorrer dos próximos dois anos, as 313 vagas ganharão rostos, assim como novos nomes se juntarão à delegação. A maioria das vagas de país-sede será distribuída por convocação, caso nenhum atleta consiga a classificação “pelas vias normais”: os campeonatos e os rankings utilizados pelas modalidades para a classificação de atletas também de outros países.
Em algumas modalidades, por outro lado, as vagas de país-sede vão para o melhor brasileiro do ranking mundial ou de um campeonato pré-determinado. No tênis de mesa, por exemplo, o Brasil tem garantida a presença na disputa por equipes com três mesatenistas por gênero (masculino e feminino), mas o representante na disputa individual será conhecido em um torneio só para os brasileiros, caso nenhum se classifique pelo pré-olímpico latino-americano ou pelo ranking mundial.
No tênis, se não conseguirem vaga pelo ranking mundial, os brasileiros receberão convites da Federação Internacional de Tênis (ITF) de modo que estejam em todas as chaves, o que garante no mínimo duas vagas para os homens e duas para as mulheres.
No golfe, a Federação Internacional (IGF) garante uma vaga de país-sede na disputa masculina e outra na feminina. A Confederação Brasileira de Golfe (CBG), por sua vez, exige que o golfista que se classifique para essa vaga tenha pontos no ranking olímpico. Há um risco mínimo de não haver nenhuma representante no ranking feminino. No entanto, a CBG acredita que ao menos uma brasileira conquistará pelo menos um ponto no ranking mundial.
As federações internacionais de natação e atletismo divulgarão os índices de classificação em dezembro de 2014 e abril de 2015 respectivamente. Só depois disso as confederações brasileiras confirmarão as marcas mínimas para a inscrição de brasileiros. As duas entidades costumam ser mais rigorosas para levar aos Jogos apenas atletas com chances de ir às finais.
FIGURINHAS QUASE CARIMBADAS
Em teoria, as vagas de país-sede ainda não têm dono, mas alguns brasileiros se destacaram nesses dois primeiros anos do ciclo olímpico a ponto de estarem muito perto dos Jogos. São nomes que só uma lesão justificaria a ausência. Maior medalhista olímpico do Brasil, Robert Scheidt puxa essa lista. Depois de dois ciclos olímpicos na classe star, ele retornou bem à laser e é o atual campeão mundial da categoria. Ele é o titular da equipe de vela, que tem uma embarcação garantida por classe.
- Só de saber que você tem a vaga garantida, que você tem mais tempo de treinamento, de preparação, você fica mais aliviado. Sei que tenho a vaga. Pode outro atleta vir querer tirar minha vaga, mas vai ser complicado, porque não vou deixar ninguém ganhar de mim, porque vão ser Jogos em casa. O essencial agora é focar para 2016 e tentar fazer o máximo de treinamentos possíveis. Eu sou otimista. Sei que posso conseguir uma medalha, mas, pelo treinamento e pela confiança no treinador, sei que estou no caminho certo. Espero ganhar o ouro em casa, mas a medalha que vier será importante. Não quero quarto ou quinto lugar, o importante é medalha. A final vai ser o último tiro da minha vida - disse Isaquias.Nem só de veteranos consagrados é formada a lista dos nomes quase certos nos Jogos. O canoísta Isaquias Queiroz foi a Londres em 2012 apenas para o Projeto Vivência Olímpica. No ano passado, ele se tornou campeão mundial em uma prova não olímpica e levou o bronze na prova de 1.000m da canoa individual, em que o Brasil já está garantido no Rio 2016. O baiano vem colecionando conquistas desde então, e a Confederação Brasileira de Canoagem já o considera classificado antes mesmo da convocação.
Outros brasileiros que estão bem à frente dos compatriotas concorrentes e, por isso, estão perto da vaga são Ricardo Winicki (vela), a dupla Martine Grael e Kahena Kunze (vela), Ana Sátila (canoagem slalom), Renato Rezende (ciclismo BMX), Henrique Avancini (ciclismo mountain bike), Yane Marques (pentatlo), Fernando Reis (levantamento de peso), Renzo Agresta (esgrima), o dueto Giovana Stephan e Luisa Borges (nado sincronizado) e Pâmella Oliveira (triatlo).
Paiola deve ser o 1º brasileiro a se garantir nos Jogos no Badminton (Foto: Gaspar Nóbrega/COB)
Com as vagas de país-sede, o Brasil estreará em algumas modalidades em Olimpíadas. É o caso do badminton, da ginástica de trampolim, do golfe e do rúgbi - os dois últimos estão retornando ao programa olímpico depois de décadas de ausência.
Entre os novatos, um atleta é praticamente certeza na delegação brasileira. Daniel Paiola ficou perto de classificar o badminton verde-amarelo pela primeira vez para as Olimpíadas de Londres, em 2012. Desta vez, ele precisa confirmar o posto de número 1 do Brasil no ranking mundial, posição que ocupa há anos.
- A classificação para as Olimpíadas é fruto de um longo trabalho. Apesar de estar na frente dos outros atletas brasileiros no ranking mundial, eu não vejo esta vaga garantida. O badminton no Brasil vem crescendo, e muitos outros atletas estão trabalhando muito para conquistar essa vaga. Meu objetivo é continuar o trabalho duro e realizar o grande sonho da minha carreira. Meu objetivo é pensar no meu badmiton, aumentar cada dia mais o meu nível de jogo para eu estar totalmente preparado a partir do ano que vem, quando começa o período classificação olímpica - afirma Daniel Paiola.
O polo aquático não será estreante - os homens já estiveram por seis vezes nos Jogos -, mas pode ser considerado uma novidade na delegação depois de 32 anos de ausência. As brasileiras debutarão na modalidade. As duas equipes se reforçaram com brasileiros que defendiam outras seleções, gringos naturalizados e técnicos estrangeiros campeões.
Hóquei é o único esporte em que o Brasil pode não ter representantes. Homens estão mais perto da classificação (Foto: Divulgação/Odesur)
O hóquei sobre grama é o único esporte ameaçado de não ter representante do Brasil nos Jogos. Pouco expressivas no cenário mundial, as seleções verde-amarelas precisam alcançar um patamar mínimo estabelecido pela Federação Internacional de Hóquei (IHF) para terem o direito de jogar as Olimpíadas do Rio, mesmo sendo as anfitriãs. O time masculino precisa, até o fim deste ano, figurar entre os 30 melhores do ranking mundial ou ficar pelo menos em sexto nos Jogos Pan-Americanos de Toronto - para competir no Canadá em 2015, os brasileiros precisam torcer para Trinidad e Tobago ou México ir à final dos Jogos da América Central e do Caribe, em novembro, para herdar a última vaga. As mulheres, por outro lado, precisam alcançar um lugar no Top 40 e não têm mais chances de disputar o Pan de Toronto.
Apesar de no momento aparecer em 34º lugar, os homens estão com a classificação bem mais encaminhada que as mulheres, que figuram no 41º posto. Sem contar com patrocínio, a equipe feminina não disputará a primeira fase da Liga Mundial, em agosto. Por isso, elas não somarão pontos no ranking e estão praticamente fora dos Jogos. O time masculino segue na competição e com chances de estrear nas Olimpíadas.
Essa situação não é novidade nas Olimpíadas. Em Atenas 2004, o time feminino da Grécia não conseguiu a vaga automática e acabou fora dos Jogos após perder todas as partidas nos torneios qualificatórios.
Judô, da campeã olímpica Sarah Menezes, deve ser o carro-chefe do Brasil nas Olimpíadas de 2016 (Foto: Agência AFP)
Por ora, o mapa da delegação brasileira é repleto de números e nenhum nome. Dessa quantidade de 313 vagas garantidas e de 400 estimadas, o COB espera tirar qualidade para cumprir a missão de ficar no top 10 do quadro de medalhas. O Comitê usa o critério de número de pódios, assim, estima que seja preciso de 27 a 30 medalhas para ficar entre as dez melhores delegações. Em Londres, o Brasil foi o 15º em número de pódios, com 17 conquistas, e 22º pelo número de ouros, com três triunfos - Sarah Menezes venceu na categoria até 48kg do judô, Arthur Zanetti foi o melhor das argolas na ginástica artística, e a seleção feminina de vôlei conquistou o bicampeonato.
- A meta do COB é ficar entre os dez primeiros países no quadro total de medalhas. É uma meta ousada, porém factível, dentro da realidade que podemos atingir. Para isso estamos trabalhando intensamente com as Confederações para proporcionar aos atletas e equipes todas as condições de preparação e treinamento - disse Marcus Vinícius Freire, superintendente executivo de esportes do COB.
Para alcançar o top 10, a delegação verde-amarela conta com um planejamento estratégico do COB e mais recursos financeiros. Nos quatro anos deste ciclo olímpico, o investimento total é estimado em US$ 600 milhões (cerca de R$ 1,3 bilhão), somando recursos da Lei Agnelo/Piva, dos programas de alto rendimento do Ministério do Esporte (Bolsa Pódio e Plano Brasil Medalhas) e de patrocinadores. No ciclo anterior, o valor foi de US$ 350 milhões.
Marcus Vinícius Freire apresenta contas das preparação do Brasil para os Jogos: US$ 600 mi em quatro anos (Foto: Luiz Pires / Vipcomm)
- Nosso grau de satisfação com relação ao apoio é de 100%. Essa soma é próxima à dos países que investem para estar do quarto ao oitavo lugares, como Austrália, Grã-Bretanha, França e Alemanha (US$ 700 milhões). Nós vamos chegar próximo a isso. Já China, Estados Unidos e Rússia têm valores acima de US$ 1 bilhão - disse Marcus Vinícius.
Em seu planejamento, o COB dividiu as modalidades em quatro grupos, que recebem atenção e recursos diferentes. Quem tem mais chances de medalha, recebe mais verba. As modalidades vitais são aquelas em que o Brasil tem histórico de conquistas olímpicas e devem ser o carro-chefe no Rio, como o vôlei, a natação, o judô e a vela. As modalidades potenciais são as que também já conquistaram medalhas em Olimpíadas e têm tudo para repetir a dose, como o boxe e a ginástica artística. As modalidades contribuintes são as que têm ao menos um atleta capaz de chegar ao pódio, como Yane Marques, do pentatlo, e Isaquias Queiroz, da canoagem. As modalidades “legado” são as que estão sendo desenvolvidas de olho em edições futuras - o COB não divulga a lista completa. Mas a expectativa é que o Brasil consiga medalhas em 15 modalidades diferentes em 2016.
- Dentro do planejamento estratégico do COB, os primeiros anos deste ciclo olímpico são voltados para a preparação técnica, física e mental e a estruturação esportiva das equipes brasileiras, a partir de sete ações básicas: suporte para treinamentos e competições; utilização das Ciências do Esporte; apoio a atletas e aos técnicos brasileiros; disponibilização de serviços médicos e fisioterapêuticos; aquisição de equipamentos esportivos; contratação de técnicos estrangeiros; e monitoramento de resultados internacionais - concluiu Marcus Vinícius.